Polícia equatoriana invade Embaixada do México e prende ex‑vice‑presidente Jorge Glas

Polícia equatoriana invade Embaixada do México e prende ex‑vice‑presidente Jorge Glas

out, 15 2025

Quando Jorge Glas, ex‑vice‑presidente do Equador foi capturado dentro da Embaixada do México em Quito, o mundo diplomático ficou em choque. A operação, ocorrida na noite de 5 de abril de 2024 por volta das 22h (UTC‑5), foi liderada pela Polícia Nacional do Equador, que usou aríete para abrir o portão principal e escalou as muralhas do recinto. Apenas horas antes, a Alicia Bárcena, ministra das Relações Exteriores do México, havia concedido asilo político a Glas, que vivia na embaixada desde 17 de dezembro de 2023.

Contexto diplomático antes da invasão

O clima entre Quito e a Cidade do México já era tenso. No dia 4 de abril de 2024, o presidente equatoriano Daniel Noboa declarou a embaixadora Raquel Serur Smeke "persona non grata" após críticas feitas pelo presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador às eleições de 2023 no Equador. A medida, citando o Artigo 9 da Convenção de Viena, exigiu a saída da diplomata em 48 horas.

Enquanto isso, o governo de Noboa se recusava a garantir passagem segura a Glas, alegando risco de interferência interna. A recusa empurrou o México a conceder asilo, e a ministra Bárcena pediu ao Equador que providenciasse a saída do ex‑vice‑presidente "o mais rápido possível".

A invasão à Embaixada do México

Na noite de 5 de abril, unidades de elite da Polícia Nacional do Equador chegaram em veículos blindados, arrombando o portão com um aríete de 1,5 tonelada. Testemunhas viram os agentes escalar as muralhas que cercam a Embaixada do México em Quito, enquanto disparavam armas de aviso. O chefe de missão ad interim, Roberto Canseco, tentou impedir a entrada, foi alvejado por tiros de advertência e, em seguida, derrubado ao chão.

Segundo relatos da Agência Brasil e da rádio RFI, Glas foi violentamente agarrado, chutado várias vezes e arrastado para fora da sala de conferências onde permanecia. Seu advogado declarou que o ex‑vice‑presidente foi "espancado" durante a prisão. Após a captura, ele foi conduzido à Procuradoria‑Geral de Quito, depois levado ao aeroporto de Mariscal Sucre para voo a Guayaquil, onde aguardará transferência para uma unidade prisional de segurança máxima.

Reação do México: suspensão de relações diplomáticas

Imediatamente após o incidente, o presidente Andrés Manuel López Obrador anunciou a suspensão total das relações diplomáticas com o Equador, classificando a ação como "uma violação flagrante do direito internacional e da soberania mexicana". Em um comunicado via X, a ministra Alicia Bárcena denunciou os ferimentos sofridos por seu staff e exigiu uma investigação internacional.

O México ainda levou o caso à Corte Internacional de Justiça em Haia. No dia 30 de abril de 2024, o assessor jurídico Alejandro Celorio alegou que "não existe regra no direito internacional que possa anular a inviolabilidade de uma embaixada" e ressaltou que o julgamento tem repercussões para toda a comunidade diplomática.

Defesa do Equador e argumentos de imunidade

Defesa do Equador e argumentos de imunidade

O governo equatoriano, por meio da Secretaria de Comunicação da Presidência (Segcom), justificou a operação como resposta a "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão mexicana. Segundo o porta‑voz, a presença de Glas dentro da embaixada era "uma afronta ao sistema jurídico nacional" e a polícia agiu dentro da legalidade para impedir que um condenado cumprisse uma pena de seis anos por corrupção ligada à Odebrecht.

Especialistas em direito internacional apontam que o caso testa limites da Convenção de Viena de 1961, que garante a inviolabilidade das missões diplomáticas, salvo consentimento expresso do chefe de missão – algo que não foi concedido pelo México.

Implicações e próximos passos

Além da ruptura bilateral, a situação pode gerar desdobramentos regionais. Países da América Latina observam atentamente, temendo que precedentes semelhantes abram brechas para intervenções futuras. Enquanto a Corte Internacional de Justiça analisa os argumentos, a comunidade diplomática tem pedido medidas de contenção para evitar escalada.

Internamente, o Equador ainda tem que lidar com a pressão popular por justiça no caso Odebrecht, enquanto o México prepara uma resposta ao Conselho de Segurança da ONU. O futuro de Jorge Glas permanece incerto: ele já cumpre pena, mas ainda pode recorrer ao tribunal internacional para contestar a legalidade de sua captura.

O que mudou na prática diplomática?

O que mudou na prática diplomática?

  • Reforço da necessidade de protocolos claros para concessão de asilo em missões estrangeiras.
  • Possível revisão de acordos bilaterais de segurança entre países latino‑americanos.
  • Debate renovado sobre a aplicação da Convenção de Viena em situações de crise política.

Perguntas Frequentes

Como a captura de Jorge Glas afeta as relações México‑Equador?

A ruptura diplomática implica a suspensão de embaixadores, cessação de acordos de cooperação e possível congelamento de comércio bilateral. Ambos os governos ainda não anunciaram um cronograma para restaurar os laços, o que pode gerar perdas econômicas estimadas em dezenas de milhões de dólares.

Quais foram as alegações do México na Corte Internacional de Justiça?

O México argumentou que a Convenção de Viena proíbe a entrada forçada em missões diplomáticas sem consentimento, independentemente de quem esteja sob proteção. O país pede reparação, reconhecimento da violação e garantias de não‑repetição.

Jorge Glas ainda pode recorrer ao asilo concedido?

Embora o México tenha mantido o asilo até a invasão, a captura aconteceu antes de qualquer traslado oficial. O ex‑vice‑presidente pode buscar recursos junto ao Tribunal Inter‑americano de Direitos Humanos, mas a decisão dependerá de como a Justiça equatoriana classifica a ação policial.

Qual o risco de outros países quebrarem a inviolabilidade de embaixadas?

Especialistas alertam que o caso cria um precedente perigoso. Se a Corte decidir a favor do Equador, governos podem justificar intervenções em missões diplomáticas sob o pretexto de segurança interna, enfraquecendo um dos pilares do direito internacional.

O que significa "persona non grata" no contexto diplomático?

É uma declaração formal de que um diplomata não é mais bem‑vindo em um país anfitrião. O Estado receptor deve pedir sua partida em até 72 horas, sem necessidade de justificativa. O termo foi usado por Quito contra a embaixadora mexicana antes da crise.

1 Comentários

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    Jémima PRUDENT-ARNAUD

    outubro 15, 2025 AT 23:12

    A invasão da embaixada mexicana pelo Estado equatoriano é uma violação flagrante da Convenção de Viena de 1961, que garante a inviolabilidade das missões diplomáticas.
    Não há nenhum pretexto jurídico que legitime o uso de aríete e força bruta para penetrar em território consular.
    O argumento de “abuso de imunidade” não subsiste porque a imunidade protege o local, não o conteúdo das reivindicações políticas internas.
    O governo de Noboa, ao decidir agir sem o consentimento da autoridade mexicana, demonstra um desprezo absoluto pelo direito internacional que sustenta a paz entre nações.
    Ainda que Jorge Glas seja réu condenado por corrupção, isso não transfere ao Estado o direito de violar a soberania de outro país.
    A prática de sequestrar um protegido político dentro da embaixada cria um precedente perigoso que pode desencadear uma guerra de retaliações diplomáticas.
    O México, ao conceder asilo, cumpriu com a obrigação de proteger um refugiado político, conforme o direito consuetudinário.
    A reação do presidente López Obrador, suspendendo relações, é apenas o reflexo de uma violação inaceitável da ordem jurídica internacional.
    Se a comunidade internacional aceitar a justificativa equatoriana, estaremos aceitando que qualquer Estado possa invadir missões estrangeiras quando lhe convier.
    Tal cenário abriria as portas para intervenções arbitrárias em capitais ao redor do mundo, desestabilizando todo o sistema diplomático.
    A Corte Internacional de Justiça tem responsabilidade de repudiar esse ato e reafirmar a inviolabilidade das embaixadas.
    Os relatos de violência física contra Glas são ainda mais escabrosos, pois violam não só normas diplomáticas, mas princípios básicos de direitos humanos.
    A solução não pode ser o encobrimento, mas a aplicação de sanções concretas e a exigência de reparação ao Equador.
    Países latino‑americanos devem unir‑se em defesa do direito internacional, caso contrário, o caos legal se instalará.
    Em suma, a ação equatoriana é um desrespeito absoluto à justiça e à civilidade que deveria reger as relações entre Estados soberanos.

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